Introdução: Com mais de 60 anos de história, a GOPE Instrumentos Musicais se consolidou como referência nacional e internacional em percussão, construindo uma trajetória exemplar de inovação e sucesso. Desde sua fundação, a marca traz em seu DNA a criatividade e a busca incansável por estar à frente do seu tempo a prova disso é que muitos de seus lançamentos logo são adotados pelo mercado e até mesmo pela concorrência, tamanha a liderança tecnológica de seus produtos . Atualmente a GOPE mantém uma fábrica moderna com mais de 6.000 m² em Embu Guaçu (SP), onde produz uma ampla linha de instrumentos de percussão de metal e madeira. De surdos, repiniques e tamborins (essenciais no samba e pagode) a cornetas e pratos de fanfarra. Além de acessórios e peles sintéticas para percussão e bateria. Toda essa diversidade reflete uma filosofia centrada na qualidade e na paixão: a GOPE busca criar instrumentos “de alta qualidade, acessíveis e que levam em cada componente alma, sentimento e emoção”, transmitindo alegria em tudo que faz e respeitando em primeiro lugar seus clientes e colaboradores. Não é por acaso que a marca GOPE é hoje reconhecida pela sua autoridade e tradição, com presença marcante tanto no Brasil quanto em diversas partes do mundo. A seguir, convidamos você a percorrer nossa linha do tempo e descobrir como cada inovação tecnológica da GOPE ajudou a moldar o som da percussão brasileira. Do samba e pagode nas quadras e rodas de música, às fanfarras militares, igrejas evangélicas, forró pé-de-serra, axé baiano e até fusões com música eletrônica. É uma história de evolução contínua, marcada por materiais inovadores, designs inteligentes, processos de produção eficientes e um impacto cultural que ecoa o ritmo do Brasil.
Anos 1960 – Fundação e primeiros passos rítmicos
A história começa em São Paulo, onde Humberto Henrique Rodella cresceu em meio à música. Seu pai, Oswaldo Rodella, era artesão de acordeões e baterias, e em 1957 pai e filho tiveram o primeiro contato com a percussão carnavalesca ao ajudar a vizinha Escola de Samba Lavapés – a primeira de São Paulo – construindo tambores com latas de tinta descartadas e cobertas com pele animal. Dessa engenhosidade nascera uma ideia forte: criar instrumentos nacionais para suprir a carência das escolas de samba. Em 1960, a família Rodella fabricou artesanalmente a primeira bateria (drum kit) GOPE, com casco de madeira e pele animal, a pedido de um parente músico – o sucesso foi imediato, gerando encomendas de bateristas em Minas Gerais e motivando Humberto a empreender. No dia 9 de maio de 1962, ao completar 21 anos, Humberto recebeu de presente do pai a transferência do pequeno negócio familiar para o seu nome, oficializando a fundação da Gope Instrumentos Musicais Ltda. naquela data . Nascia assim a primeira fábrica de baterias do Brasil, 100% nacional , operando na Rua Sinimbu, bairro da Liberdade em São Paulo.
Os primeiros anos foram de muita experimentação e determinação. Humberto e Oswaldo focaram em produzir baterias completas e também iniciaram a fabricação de instrumentos de percussão carnavalesca – surdos, repiques, tamborins e outros – diversificando a linha para atender o nascente mercado de samba-enredo . Uma inovação de acabamento foi o uso de revestimento de celuloide nos cascos das baterias, material que dava brilho e cor aos instrumentos, embora fosse altamente inflamável (um incêndio acidental em 1963 feriu gravemente Humberto, que felizmente se recuperou). Superados os desafios iniciais, a pequena fábrica começou a ganhar fama entre os músicos. Em 1965, Humberto teve a ideia de deixar uma bateria GOPE sempre montada em sua casa-oficina para os músicos que o visitavam experimentarem – logo o local virou ponto de encontro de instrumentistas, incluindo ídolos da Jovem Guarda como Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa. Essa proximidade com artistas deu frutos: percebendo a dificuldade logística nos programas de TV ao vivo, Humberto propôs à direção da TV Record fixar uma bateria GOPE no palco do programa Jovem Guarda. A ideia foi aceita, e a GOPE desenvolveu um kit exclusivo que passou a ser usado nas gravações do Jovem Guarda (apresentado por Roberto e Erasmo Carlos) e em outros programas importantes da época, como O Fino da Bossa (de Elis Regina) e Spotlight (de Wilson Simonal) . Essa iniciativa pioneira – hoje chamaríamos de product placement – garantiu visibilidade nacional à jovem marca, com todos os bateristas daqueles programas aprovando a qualidade do instrumento. Assim, em meados dos anos 60 a bateria GOPE tornou-se conhecida como “a bateria do músico brasileiro”, uma alternativa acessível frente às caríssimas baterias importadas, democratizando o acesso a instrumentos de qualidade no país . A autoridade técnica da GOPE nascia aí, respaldada pelo aval dos artistas e pela inovação de enxergar oportunidades únicas para colocar a percussão brasileira em destaque.
Anos 1970 – Expansão, pioneirismo e novos materiais
Com o crescimento da demanda no final dos anos 60, a GOPE precisou se expandir. Em 1969 a produção foi transferida para um galpão maior de 500 m² no bairro do Ipiranga (SP) . Apesar de contratempos, em 1971, esse galpão foi desapropriado e o pai de Humberto faleceu repentinamente, deixando-o à frente dos negócios. Humberto perseverou e continuou ampliando a empresa. Em 1972, a GOPE iniciou suas primeiras exportações para Europa e outros mercados, aproveitando incentivos fiscais da época. Paralelamente, Humberto adquiriu um grande terreno (10.000 m²) em Embu Guaçu (Grande São Paulo) para construir uma nova fábrica própria – vislumbrando um futuro de maior produção. Enquanto a infraestrutura definitiva não ficava pronta (houve atrasos, inclusive por falta de rede elétrica adequada na região ), a fábrica operou em outro galpão alugado na Av. Celso Garcia, onde a linha de produção foi retomada e ampliada.
Foi nessa década que a GOPE deu um salto tecnológico notável ao introduzir novos materiais na percussão brasileira. Humberto identificou uma tendência mundial e em 1974 implementou a fabricação nacional de peles sintéticas de poliéster (náilon), tornando a GOPE a primeira empresa brasileira a produzir peles de bateria e percussão. Essa inovação foi revolucionária: as peles de poliéster são menos suscetíveis a variações climáticas e mais duráveis que peles animais tradicionais, garantindo afinação padronizada e estável mesmo sob o calor e a umidade das ruas no Carnaval. A GOPE, que já produzia suas próprias peles animais artesanalmente, passou a oferecer também peles sintéticas nacionais de alta qualidade, reduzindo a dependência de importação e padronizando tamanhos de pele e sistemas de afinação no mercado brasileiro. Além das peles, a empresa continuou lançando novos instrumentos de percussão carnavalesca e baterias, conquistando espaço não só nas escolas de samba paulistas, mas também começando a atrair a atenção das agremiações do Rio de Janeiro.
No universo do samba e do Carnaval, a GOPE solidificou sua presença durante os anos 70. Em 1975, ao passo que concluía o primeiro galpão na nova fábrica de Embu Guaçu e dividia a produção entre lá e o galpão urbano , Humberto passou a fornecer instrumentos de fanfarra para todo o Exército Brasileiro – ou seja, tambores, bumbos, cornetas e outros instrumentos para as bandas marciais militares . Essa incursão no segmento de fanfarras mostrou a versatilidade técnica da GOPE, adaptando sua produção para cumprir exigentes padrões de afinação e robustez dos instrumentos usados em desfiles cívicos. Ao mesmo tempo, a reputação da marca no samba só crescia: a partir de 1978, a GOPE tornou-se fornecedora das maiores escolas de samba do Brasil, conquistando de vez o exigente mercado carnavalesco . Humberto Rodella, com sua paixão pelo samba, envolveu-se ativamente no meio – chegou a presidir a escola de samba X-9 Paulistana (SP), que ajudou a fundar levando-a a vencer o grupo de acesso em 1982 . Mais do que um fabricante, a GOPE se tornou parceira das escolas de samba, apoiando diversas agremiações com doação e empréstimo de instrumentos, especialmente aquelas com menos recursos financeiros . Esse apoio rendeu reconhecimento: Humberto conviveu com mestres de bateria e presidentes de várias escolas, tornando-se figura influente no Carnaval. Não à toa, recebeu do governo o título honorífico de Embaixador do Samba por contribuir para engrandecer a cultura brasileira.
Tecnologicamente, ao fim dos anos 70 a GOPE já colhia os frutos de seu pioneirismo. A nova fábrica em Embu Guaçu entrou em operação gradualmente, permitindo ampliar a linha de produtos com qualidade ainda maior. Em 1980, a empresa inauguraria oficialmente sua planta fabril de grande porte em Embu Guaçu para consolidar o crescimento exponencial que experimentou nessa fase . Prestes a entrar na década seguinte, a GOPE já era sinônimo de inovação e confiança: exportava instrumentos brasileiros para vários países e acumulava um catálogo vasto, atendendo do samba carioca ao frevo pernambucano, do pagode de fundo de quintal às fanfarras escolares. A base estava lançada para voos ainda mais altos.
Anos 1980 – Consolidação no samba, diversificação e grandes inovações
Os anos 80 viram a GOPE alcançar um patamar de destaque sem precedentes, tanto em termos de inovação tecnológica quanto de influência cultural. Logo no início da década, Humberto Rodella aprofundou seu envolvimento com o Carnaval: além de continuar fornecendo instrumentos para praticamente todas as escolas de samba de São Paulo e Rio, ele contribuiu com ideias organizacionais (foi dele a sugestão de escalonar os desfiles de SP e RJ em dias diferentes, por exemplo) e até mesmo introduziu novidades nas próprias apresentações. Um fato curioso é que Humberto levou o primeiro grande carro alegórico para um desfile em São Paulo, inspirado no que via no Carnaval carioca– inovação cenográfica que elevou o nível dos desfiles paulistanos. Em termos de instrumentação, a GOPE continuou a criar soluções sob medida: ao perceber que alguns ritmistas da escola Imperatriz Leopoldinense (RJ) não podiam mostrar o rosto em público, Humberto desenvolveu uma caixa de repique menor, projetada para ser tocada na altura do ombro, de modo que o próprio instrumento (junto a um chapéu) ocultasse o rosto do músico . Essa engenhosa adaptação – fruto de sensibilidade cultural e criatividade de design – resolveu o problema e deu origem a um novo jeito de tocar repique, adotado pela bateria da Imperatriz e usado até hoje no samba . Outra inovação peculiar veio na linha de chocalhos: a GOPE criou um novo tipo de ganzá de samba com sonoridade potente e registrou a patente com o nome “Rocar”, uma homenagem às iniciais do amigo Roberto Carlos (RC) . Esse instrumento diferenciado acrescentou personalidade às baterias e se tornou parte do vocabulário percussivo das escolas.
Enquanto isso, a fábrica da GOPE expandia sua produção e diversificava sua atuação. Em 1982, a empresa já exportava para mais de dez países e possuía um catálogo com mais de 140 produtos de percussão diferentes, cobrindo todos os segmentos do mercado . A GOPE não devia seu sucesso apenas à qualidade dos instrumentos, mas também a um trabalho intenso de divulgação e incentivo a novos artistas e grupos de samba, mantendo parcerias e fornecendo equipamentos que alavancaram muitos talentos . Foi nessa época que Humberto foi procurado por Neguinho do Samba – lendário percussionista baiano criador do samba-reggae – para ajudar a recém-formada banda mirim do Olodum, em Salvador. Humberto se encantou com o projeto social (que envolvia crianças carentes aprendendo música) e forneceu instrumentos GOPE para apoiá-lo, iniciando uma grande amizade com Neguinho do Samba . Esse gesto de apoio, lá no início dos anos 80, plantou uma semente cuja colheita viria mais de uma década depois em cenário mundial (como veremos adiante com Michael Jackson).
Em 1983, a GOPE demonstrou mais uma vez sua versatilidade ao adquirir a tradicional marca de instrumentos de sopro Galasso e todos os seus equipamentos, passando a fabricar também uma linha completa de trompetes, trombones, saxofones, cornetas e outros instrumentos de sopro . Com isso, por alguns anos a empresa atuou como uma das poucas indústrias musicais multi instrumentos do Brasil, dominando tanto percussão quanto sopro, cordas e acessórios. Aliás, em 1984 a fábrica atingiu seu ápice em tamanho e produção: eram 10.188 m² de galpões construídos, operando a todo vapor com mais de 430 funcionários . A GOPE fabricava literalmente de tudo: violões, cavaquinhos, banjos, violas caipiras, flautas, trompetes, saxofones, baterias acústicas de madeira, baterias transparentes de acrílico, todos os instrumentos de percussão (surdos, caixas, repiques, tamborins, pandeiros etc.), pratos, ferragens e pedais. E praticamente todas as peças e componentes desses instrumentos eram feitas internamente na própria fábrica . Essa estrutura integrada garantia controle de qualidade e permitia experimentação constante em designs e materiais. Não por acaso, a fábrica da GOPE recebia visitas ilustres de artistas de todos os gêneros, de Alcione a Raul Seixas, passando por sambistas, roqueiros e maestros, todos queriam conhecer a “fábrica dos sonhos” da música brasileira . Essa validação por grandes nomes comprovava que os instrumentos GOPE tinham conquistado respeito em todos os segmentos, do popular ao erudito.
Mesmo com tantas frentes, a GOPE manteve o foco em inovar na percussão, seu carro-chefe. Um marco técnico dessa época foi o lançamento, em 1988, de um Surdo com tripé incorporado, permitindo que o instrumentista tocasse o surdo grande em pé ou sentado. Essa melhoria de ergonomia atendeu a uma demanda dos sambistas (principalmente em shows e pagodes, onde às vezes é necessário ficar de pé) e fez enorme sucesso, sendo celebrada como um grande momento de evolução no samba-enredo . O surdo de tripé se espalhou pelas escolas de samba e grupos, evitando que os músicos precisassem pendurar instrumentos muito pesados no ombro o tempo todo mais conforto sem perder a potência sonora. Com inovações como essa, a GOPE mostrou que ouvia as necessidades dos percussionistas, transformando sugestões em produtos reais, sempre aprimorando a resistência e praticidade de seus instrumentos.
No final dos anos 80, a GOPE também reforçou sua presença internacional. Em 1989, participou com destaque da feira Musikmesse em Frankfurt (Alemanha), exibindo ao mundo a qualidade da percussão brasileira . Contudo, as vésperas da década de 90 trouxeram desafios econômicos sérios no Brasil: a chamada “década perdida” culminou no Plano Collor de 1990, que confiscou poupanças e desestruturou muitas empresas. Humberto estava na Europa quando o plano entrou em vigor, mas retornou ao Brasil determinado a enfrentar a crise . Graças ao porte que a GOPE havia alcançado, com uma boa reserva de matéria-prima estocada e estrutura própria. Ele conseguiu inicialmente manter a fabricação e os empregos, mesmo com muitos clientes (lojistas) tendo dificuldade para honrar pagamentos . Porém, com a abertura às importações baratas e a inflação de custos internos, a empresa se viu obrigada a enxugar a linha de produtos: Humberto interrompeu a fabricação de instrumentos de sopro e cordas, concentrando a produção apenas em peles e instrumentos de percussão, coração do negócio . Foi um período difícil, mas a GOPE sobreviveu graças à criatividade, à persistência de seu fundador e ao fôlego das exportações, que nunca cessaram e ajudaram a manter a empresa de pé nos piores momentos.
Anos 1990 – Superação, novos ritmos e a percussão brasileira no mundo
A década de 90 começou turbulenta, mas a GOPE transformou a adversidade em oportunidade para inovar novamente. Em 1991, mesmo em meio à crise, a empresa lançou um modelo inédito de pandeiro de chorinho, mais leve e de sonoridade delicada, ideal para o samba-choro tradicional, a receptividade dos músicos foi imediata e o produto tornou-se um sucesso de vendas. No mesmo ano, Humberto foi procurado novamente pelo amigo Neguinho do Samba, agora com uma proposta visionária: apoiar a formação de um grupo de percussionistas composto só por mulheres negras de origem humilde em Salvador. Movido pelo propósito social e pela inovação cultural, Humberto forneceu instrumentos e suporte para o nascente projeto, que viria a se chamar Banda Didá. Mesmo num momento financeiramente delicado para a empresa, a GOPE apostou no potencial transformador da música, e a história logo provaria o valor disso.
Em meados da década, a GOPE começou a colher resultados do prestígio construído. O mercado interno de instrumentos voltou a aquecer e a marca retomou seu crescimento, muito impulsionada pelo boom do pagode no cenário musical brasileiro. Grupos de pagode e samba de mesa nos anos 90 adotaram amplamente instrumentos GOPE – tantãs, repiques de mão, pandeiros e surdos menores pela qualidade sonora e pela resistência no batido intenso das rodas de samba. De olho nessa tendência, em 1997 a GOPE lançou a Linha Pagode, composta de instrumentos especialmente pensados para esse gênero (como tantãns de diferentes tamanhos, repiniques adaptados para pagode, banjos cavaco híbridos, etc.), com design moderno e excelente projeção sonora. O sucesso foi estrondoso, consolidando a marca como preferida também no pagode romântico que dominava as paradas . No ano seguinte, 1998, a GOPE apresentou outra novidade estética e tecnológica: a linha de instrumentos com pintura “explosão”, um inovador acabamento multicolorido, com efeitos de manchas e degradês vibrantes na lataria dos surdos e repiques. Essa linha causou sensação no mercado e recolocou a GOPE na vanguarda da inovação visual na percussão, sendo amplamente imitada pelos concorrentes posteriormente. Na mesma época, a empresa aproveitou a retomada para trazer de volta alguns produtos diferenciados – por exemplo, voltou a fabricar cornetas de fanfarra, integrando som e visual numa oferta única que exibiu na feira Expomusic daquele ano.
Enquanto as inovações em produto aconteciam, a GOPE também ganhava projeção cultural global graças a parcerias semeadas anteriormente. Em 1996, o mundo inteiro ouviu a batida do samba-reggae da Bahia na música “They Don’t Care About Us” de Michael Jackson – cujo clipe, gravado no Pelourinho, em Salvador, trouxe em destaque os tambores do grupo Olodum (fundado por Neguinho do Samba) tocados por crianças e jovens. Nesse momento histórico, lá estavam os instrumentos GOPE ecoando em escala planetária, carregados pelo ritmo contagiante brasileiro. Como disse Humberto Rodella, a GOPE “esteve no mundo inteiro” através daquele vídeo, que já ultrapassa 760 milhões de visualizações no YouTube. A marca, que apoiara Olodum e Didá nas suas etapas iniciais, sentiu orgulho ao ver a cultura percussiva nacional brilhar internacionalmente – um reconhecimento implícito da qualidade de seus tambores e do impacto social de suas iniciativas.
No final dos anos 90, a GOPE consolidou sua recuperação. Em 1997, além da linha Pagode, Humberto modernizou a estratégia comercial: encerrou a tradicional loja de fábrica na Rua Celso Garcia e inaugurou duas novas lojas de varejo, uma na Zona Leste (Rua Belém) e outra no Centro de São Paulo (Rua General Osório), ampliando a presença da marca na capital . No ano 2000, mesmo sofrendo a perda de sua mãe, Humberto seguiu trabalhando e lançou uma linha de baterias premium (baterias acústicas profissionais) e também a linha de peles “Batera”, marca própria e patenteada de peles sintéticas de alta qualidade para bateria . Apresentadas na Expomusic, essas peles provaram mais uma vez o pioneirismo da GOPE, que se tornou uma das únicas empresas a oferecer uma linha completa de peles de bateria produzidas 100% no Brasil. Na virada do milênio, a GOPE estava novamente em situação favorável: fiel às raízes (focada na percussão), porém atualizada tecnologicamente e com o prestígio renovado entre músicos de todas as gerações.
Anos 2000 – Modernização, novos materiais e alcance global
Os anos 2000 trouxeram renovação e continuidade para a GOPE. Com a transição do comando familiar em andamento – as filhas de Humberto começando a atuar na empresa – a marca investiu em tecnologias de produção e ampliou seu catálogo para além do samba, abraçando de vez a percussão universal. Em 2004, após se recuperar de um sério problema de saúde no ano anterior, Humberto aplicou recursos em maquinário moderno e lançou uma nova linha de percussão latina e afro brasileira: congas, djembês, atabaques e bongôs de fabricação nacional com padrão de qualidade internacional . Foi um grande passo para atender nichos como música caribenha, ritmos afro brasileiros (presentes no candomblé, capoeira e também na música pop), grupos de forró (que incorporam congas e atabaques), além de segmentos gospel que utilizam congas e bongôs em bandas de igreja. A aceitação foi excelente e posicionou a GOPE também nesses mercados, provando que a tradição em samba podia se traduzir em excelência em qualquer tipo de percussão.
Paralelamente, a empresa manteve sua linha clássica de baterias e instrumentos de samba/pagode, porém começou a incorporar novos materiais estruturais para reduzir peso e aumentar a resistência dos instrumentos, uma demanda cada vez mais forte dos percussionistas modernos. O grande marco veio em 2008, quando a GOPE apresentou seus novos cascos de alumínio sem reforço interno para surdos e outros tambores, tornando-os mais leves que qualquer outro no mercado. Essa inovação foi recebida como um salto evolutivo na percussão brasileira: pela primeira vez, surdos de escola de samba e de pagode podiam ter cascos inteiramente de alumínio especial, sem precisar de ripas de madeira de reforço, o que reduziu drasticamente o peso sem comprometer a projeção sonora. Pelo contrário, os técnicos elogiaram a afinação precisa e o timbre perfeito desses novos instrumentos, comprovando que a GOPE atingira um novo patamar de engenharia acústica . A introdução do alumínio robusto também melhorou a durabilidade. Os instrumentos ficaram mais resistentes a variações de clima e a impactos constantes das giras de samba, atendendo ao anseio de qualidade e leveza que os percussionistas tanto buscavam . Vale lembrar que a GOPE já vinha trabalhando em materiais alternativos desde os anos 70 (com as peles sintéticas) e agora consolidava essa vocação inovadora nos corpos dos tambores em si.
Durante os anos 2000, a GOPE também reforçou sua presença em eventos internacionais e ajustou seu modelo de negócios para a nova era. Em 2012, após um hiato, a empresa voltou a expor na Musikmesse Frankfurt, desta vez com a presença carismática de Humberto e de sua filha Narjara na equipe. O estande da GOPE fez sucesso e rendeu até o apelido carinhoso de “Mister Gope” a Humberto, abordado por fãs de várias partes do mundo felizes por conhecerem o fundador. Essa receptividade internacional provou que a marca construída lá atrás continuava batendo forte no coração dos músicos pelo mundo, e motivou ainda mais a modernização da empresa. Narjara Campos Rodella, já envolvida nos negócios, enfatizou que a GOPE estava implementando novos processos produtivos, eficiência e parcerias para modernizar a marca, sem nunca perder o legado do pai. “Queremos que nossa marca bata no compasso do coração de cada músico no Brasil”, disse ela, reforçando a missão de aproximar a GOPE das novas gerações de percussionistas.
Anos 2010 – A revolução das cores, legado familiar e orgulho percussivo
A década de 2010 representou uma união perfeita entre tradição e inovação na GOPE, guiada pela transição geracional. Com Narjara assumindo a posição de CEO operacional e Humberto permanecendo como presidente e mentor, a empresa se lançou em projetos arrojados de marketing, produto e expansão. Um dos destaques foi a chamada “revolução das cores”: embora a GOPE já produzisse instrumentos coloridos desde os anos 90, foi em 2014 – ano em que o Brasil sediou a Copa do Mundo – que a marca elevou o conceito a outro nível. Nesse ano, a GOPE lançou uma linha especial de instrumentos com as cores do Brasil (verde, amarelo, azul), incluindo surdos e repiques temáticos, e promoveu um grande evento de lançamento na sua loja com a presença de músicos e clientes. Simultaneamente, apresentou ao mercado a linha Trio Preto+1, desenvolvida em parceria com o grupo de pagode contemporâneo de mesmo nome, formado por jovens percussionistas de elite (Pretinho da Serrinha, Miudinho, Nenê Brown e Didão). Os instrumentos dessa linha, como tantãs e repiques personalizados, traziam design arrojado e acabamento em cores elegantes (branco perolado com detalhes vermelhos, por exemplo, conforme a preferência dos artistas). Essa iniciativa não apenas reforçou a ligação da GOPE com os talentos da nova geração do samba/pagode, mas também marcou a consolidação dos instrumentos coloridos no portfólio da empresa. A partir de então, a aceitação do público às cores vibrantes só aumentou, mostrando que inovação estética também faz parte da experiência musical.
Músicos brasileiros da nova geração exibindo instrumentos GOPE personalizados – a marca consolidou o uso de designs inovadores e cores vibrantes para dialogar com o público jovem do samba e pagode.
Ainda em 2014, a GOPE mergulhou de vez nas mídias sociais, abrindo canais oficiais no Instagram, Facebook e YouTube para se conectar diretamente com os percussionistas. A iniciativa foi um sucesso: hoje a marca conta com mais de 105 mil seguidores orgânicos apenas no Instagram, formando uma comunidade engajada de fãs e clientes . Essa forte presença digital, somada à participação constante em feiras nacionais (Expomusic, Music Show etc.), manteve a GOPE em evidência e próxima de seu público, ouvindo feedbacks e tendências em tempo real.
No campo comercial, a GOPE inovou ao estabelecer lojas revendedoras exclusivas da marca em diferentes regiões. Em 2015, inaugurou a primeira unidade, a loja Pego Instrumentos no Rio de Janeiro, operada por um parceiro de confiança da família . Apesar do receio inicial do mercado quanto a um modelo de loja monomarca, o resultado foi excelente – a loja do RJ virou referência para sambistas locais, provando que o amor pela marca fala mais alto. Em 2017, veio a segunda revenda exclusiva: a loja Senzala Instrumentos, estrategicamente aberta no coração do Pelourinho, em Salvador, berço do samba-reggae . A inauguração da loja da Bahia foi memorável, celebrada com o lançamento da Linha Didá, instrumentos pintados de vermelho vibrante, cor símbolo do grupo feminino Didá, criado por Neguinho do Samba. Essa linha especial, desenvolvida com efeito social em mente, foi entregue às percussionistas da Didá para uso em suas apresentações, causando um impacto emocionante e nunca visto antes nas ruas do Pelourinho . A GOPE, assim, honrou a amizade e o legado de Neguinho do Samba, empoderando uma nova geração de mulheres percussionistas e mostrando que inovação também é sobre inclusão e representatividade.
No portfólio de produtos, os anos 2010 foram extremamente produtivos. Em 2017, pai e filha (Humberto e Narjara) lançaram em conjunto a Linha Selfie, composta de surdos, repiques, caixas, tantãs e pandeiros em cores metálicas e espelhadas que remetiam à modernidade das “selfies” e redes sociais. A linha Selfie foi um sucesso absoluto de vendas, tornando-se a mais procurada entre as linhas coloridas e sendo exportada para diversos países . Já em 2019, a GOPE apresentou novidades na feira Music Show e na Music SC em Florianópolis, lançando a linha Stories, com acabamentos em cores neon atraentes (verde fluorescente, laranja, rosa), inéditas no mercado, e também os Pandeiros Super Leve . Este último merece destaque técnico: com estrutura inovadora em liga especial e revestimentos diferenciados, os pandeiros Super Leve foram lançados nos tamanhos 10”, 11” e 12”, pesando incrivelmente apenas 580 gramas na versão 12” . A aceitação foi imediata, pois atenderam a uma demanda clara dos sambistas de pagode e adoradores do pandeiro em geral – um instrumento mais leve para tocar por horas sem cansar, mas que mantivesse a projeção sonora e a resistência. A GOPE ousou e inovou nas cores e materiais, conquistando o coração dos músicos mais criativos, que agora podiam ter a excelente sonoridade GOPE aliada a um visual diferenciado e moderníssimo.
Instrumentos GOPE com acabamentos coloridos e personalizados em exposição – a empresa liderou a tendência de trazer visual arrojado à percussão, desde as pinturas “explosão” dos anos 90 até as linhas neon e temáticas das décadas seguintes.
A entrada em 2020 encontrou a GOPE em ritmo acelerado de expansão – a empresa planejava ampliar ainda mais sua presença pelo Brasil, apoiada por uma rede que já contava com 10 lojas exclusivas parceiras nas principais praças do país . A inesperada pandemia de COVID-19 trouxe preocupação, com shows e eventos suspensos, mas a paixão dos clientes pela marca falou mais alto: mesmo sem poder tocar nas ruas, muitos continuaram adquirindo instrumentos para praticar em casa, mantendo as vendas vivas e comprovando a lealdade construída ao longo de décadas . Em julho de 2020, a GOPE lançou a linha Aprendendo Percussão, voltada ao público infantojuvenil e iniciantes, com instrumentos leves, coloridos e de preço acessível para formação de novos talentos – mais um sucesso instantâneo que reforça o compromisso da empresa com o futuro da música . Assim, mesmo diante de desafios inéditos, a GOPE permaneceu firme, apoiada por uma comunidade que se orgulha de carregar o legado percussivo nacional.
Conclusão – Tradição, inovação e orgulho percussivo brasileiro
Percorrer a história da GOPE é revisitar a própria evolução da percussão brasileira nos últimos 60 anos. De um porão humilde no centro de São Paulo às grandes escolas de samba do país; das latas recicladas para ajudar a Lavapés aos super tecnológicos pandeiros ultraleves exportados para Europa; dos aplausos nos estúdios da Jovem Guarda aos ecos globais no videoclipe de Michael Jackson – a GOPE esteve presente em todos esses momentos como sinônimo de qualidade, inovação e brasilidade. Cada conquista tecnológica veio acompanhada de sensibilidade cultural: a GOPE popularizou peles sintéticas quando o Brasil precisava de afinação estável nos instrumentos de rua ; implementou estruturas em alumínio para aliviar o peso nos ombros dos ritmistas ; padronizou a afinação e os tamanhos das peças, facilitando a vida de gerações de músicos; criou soluções de ergonomia como o surdo de tripé que libertou os sambistas ; e elevou a resistência e durabilidade dos instrumentos, que hoje aguentam maratonas de ensaio e clima adverso sem perder o tom. Tudo isso sem nunca perder de vista a essência da música: a alegria, a emoção e o orgulho percussivo de tocar um instrumento genuinamente brasileiro.
Hoje, liderada pela família Rodella e por uma equipe de profissionais apaixonados, a GOPE segue inovando e honrando seu legado. “A Gope tem a inovação no seu DNA... Sigo o legado do meu pai, buscando diariamente a inovação, altíssima qualidade nos produtos, eficiência e modernização nos processos produtivos” – afirma Narjara Rodella, atual CEO, ressaltando que a empresa está sempre atenta às tendências para que a marca bata no compasso do coração de cada músico brasileiro. Esse compromisso se reflete nas ações atuais: novos materiais em desenvolvimento prometem ampliar ainda mais a paleta sonora dos instrumentos, parcerias e projetos sociais continuam fazendo a diferença (como o apoio constante à Didá e a outras iniciativas de inclusão), e a expansão pelo Brasil e pelo mundo segue firme, levando o nome GOPE aonde houver alguém disposto a batucar.
Chegamos ao fim desta linha do tempo com uma convicção: a GOPE é mais que uma fábrica de instrumentos. É guardiã de uma tradição e ao mesmo tempo farol de inovação para o futuro da percussão. Em cada surdo de escola de samba, em cada pandeiro de roda de choro, em cada timbal de banda de axé, vibra um pouco da alma da GOPE. Convidamos você a fazer parte dessa história viva: experimente os instrumentos GOPE, sinta a pulsação que eles transmitem e junte-se à nossa grande família percussiva. Somos GOPE, uma nação de ritmistas movidos a paixão, tradição e tecnologia levando o orgulho da percussão brasileira aos quatro cantos do mundo!